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O teatro é mais que o vestir de uma personagem. É uma arte, um talento, uma paixão. - Beatriz Dias.

HISTÓRIAS DE (DES)ENCANTAR


PEÇA DE TEATRO




Sinopse

A vida é mais longa para uns do que para outros, no entanto somos capazes de a dividir em fases: criança, adolescente, adulto, idoso. Da primeira guardamos na lembrança as melhores histórias, os momentos dos melhores sonhos, acredita-se na existência da Branca de Neve como da mãe, crê-se na realidade da Príncipe Ariel como se confia no pai. Depois, os anos avançam e a realidade sobrepõe-se à fantasia. Vêm os conflitos, as descrenças, o egoísmo assumido, as novas aventuras (algumas perigosas), os dramas, as maluqueiras. Uns são passageiros, outros nem por isso.

  • Personagens:

Catarina Almeida – Cinderela - histérica
Beatriz Dias – Capuchinho - oferecida
Gonçalo Almeida – Tarzan - amaricado /gay
Mariana Paula – Branca de Neve - alarve
Beatriz Santiago – Aladino - DJ doido
Dénis Amaral– Gato das Botas - sabichão burro
Alberto Júnior- Anão - saloio
Rafaela Soares– Sininho - pirosa
Filipa Pais – Sereia Ariel -peixeira
Pedro Nuno – Lobo Mau - atrofiado
Cristina Amaral – Esmeralda - cigana
Diana Damásio – bruxa (da Branca de Neve)- católica
Bruno Carvalho – Príncipe Ariel – chulo
Mafalda Correia – Rapunzel -cowgirl
Cátia Santos – Pocahontas -badalhoca
Joana Fidalgo – Minnie- falsa


Os convidados são recebidos no foyer pelos alunos vestidos com os fatos com que irão apresentar-se em cena.
Sala às escuras. A peça abre com a projecção do logotipo dos filmes da Walt Disney e respectiva música com que abrem esses filmes.


- PARTE I -


Cenário: Cenário de conto de fadas: torre da Rapunzel e trono.


Aladino – (em voz off) Era uma vez, há muitos muitos anos, quando as galinhas ainda tinham dentes e os restantes animais falavam, aconteceu uma caldeirada. O Walt Disney ficou pirado da tola e resultou uma coisa assim …

(Tarzan descendo pelos cabelos da Rapunzel)

Rapunzel – (grita como se fosse Tarzan) – Ah… ah, ah, ah, ah, aaaahh!!!
Tarzan - (com ar assustado e colocando as mãos sobre o coração) – Ai qu’ horror, credo!
Rapunzel – (pega na ponta do cabelo, com ele faz um laço com o qual tenta caçar o Tarzan) – Anda cá bicha! Sua Safada! Macaca Maluca!
Tarzan – Porque gritas, sua histérica?! Estás com dores de dentes?!
Rapunzel – (irritada) Palerma! Insensível! Não vê que me está a puxar as gadelhas?


(Entra a Branca de Neve a comer uma perna de frango, com a boca suja e acompanhada do anão)

Branca de Neve – (com ar superior) Zangados?! Mais valia esfomeados!! Deixem-se disso! (volta-se para o anão Checa) – Checa, a bucha.
Anão – Preta de Neve, um choiriço, uma boroa, uma morcela, uma órelha, um pé de bácoro… ou bácora, uma ceboila à racha e um popino.
Tarzan – (senta-se junto da toalha e diz com gestos maricas) – Para mim, uma banana, se faz favor.
Anão – Só temos da Madeira.
Tarzan – Muito piquenas.
Branca de Neve – Olhem que isto não é a República das Bananas! Nem a do Alberto João! (ordenando a Checa) Dá-lhe um chouriço pilão.
Tarzan – Ui!

(Entra a bruxa com um véu na cabeça, olha para o Tarzan, ajoelha-se e benze-se. Tenta espreitar debaixo da tanga)

Tarzan – (muito maricas) – Ó querida, ó linda, o que quer?! Chouriço pilão?!!
Bruxa – Que bicha, Jesus Cristo (benze-se).
Tarzan – (muito assumido e cheio de ares) Bicha sim, Cristo não.
Branca de Neve – (olha para a bruxa) – Olha a papa hóstias.
Bruxa – Ó Preta de Neve, qu’andas tu a roer que 'tás um pote! Tenho de te levar ao Tallon, sua balofa!
Rapunzel – Nada disso. Prefiro levá-la ao Póvoas. Ela é minha amiga, eu gosto dela e …
Branca de Neve – (muito alterada) Quem vos deu licença para decidirem sobre a minha vida? Vale mais ser gorda e feliz, a ser esquelética, anoréctica, bulímica, e nem ter dinheiro para arranjar o cabelo, sua peluda, cabeluda, felpuda.

(Entra o Gato das Botas)

Gato das Botas – Ciau. Felpudo? Quem chamou?
Bruxa – Xau? Nem Xau nem Skip, eu só uso Ariel.

(Entram o príncipe e a sereia Ariel pintados de preto)

Príncipe e Sereia - Chamaram?
Príncipe – Eu sou o príncipe Ariel.
Sereia – Eu sou a pequena sereia Ariel.
Bruxa – Com Ariel, preto mais preto não há.
Príncipe – De que estão a falar? Preta só conheço uma: a Preta de Neve, essa balofa. Agora a que está a dar é a Capuchinho.

(Música erótica - Joe Cocker «You can leave your hat»)

Capuchinho - (dengosa) Oi gato, cheguei!
Gatos das Botas – (Muito dengoso também) MIAUUU. (atira-se à Capuchinho Vermelho)
Príncipe - Primeiro pagas, depois usas.
Sereia Ariel – (visivelmente irritada) Usas mas não abusas, para isto estou cá eu.

(Entra o Aladino, com um rádio no ombro a ouvir a música «Calcinha Preta» dos Tutti Frutti)

Príncipe – (canta, animado) – Chupe, chupe, chupe …
Capuchinho – O que queres que chupe?
Príncipe – Ketchup só nos hamburgers .
Branca de Neve – Hamburguers? Comida? … Já se marfava qualquer coisa!
Príncipe – Só tenho chouriço pilão.
Branca de Neve – Mas eu é só salpicão … (irónica) tem mais chicha!

(Esmeralda, Pocahontas, Lobo Mau e Minnie entram em palco e poisam a estrutura onde é transportado o Aladino. Ouve-se uma música cigana – Gipsy Kings «Baila me»)

Esmeralda - (dançando, monta uma banca de roupa e grita à maneira dos ciganos enquanto exibe os produtos) – Olha os Lebes! Olha as Ardidas! (e dançando, continua a gritar) Doce e Abana! Lagosta!


(E continua a dançar enquanto se dirige ao público. Senta-se numa mesa e pede a mão a alguém - homem - para lhe ler a sina)


Esmeralda - (dirige-se à pessoa e identifica-se) – Sou a mestre da Maia, quase abelha mas com um ferrão muito mais comprido.
Pode emprestar-me a sua mão? (Analisa a mão por uns instantes) Bem, a linha da vida diz-me que está vivo, mas há-de morrer; a linha da cabeça, diz que nunca se esquece dela ; o monte de Vénus, ui!, não engana : o senhor está grávido de gémeos. Quer saber mais? Pois bem, agora está sentado mas há-de levantar-se (aparte) para ir para casa. Há-de pentear-se enquanto não ficar careca; há-de fazer a barba enquanto tiver lâminas; há-de comer, se tiver fome, e beber, se tiver sede. Andará a pé, se não tiver carro; dormirá se tiver sono; libertar-se-á de mim quando me pagar.


(Ouve-se de novo a música cigana. Esmeralda levanta-se e, a dançar, dirige-se ao palco para ler a sina à Pocahontas, que aparece ligeiramente suja na roupa e na pele - cara e mãos)

Esmeralda – Como se chama?
Pocahontas – Pocahontas.
Esmeralda – (pegando na mão da Pocahontas) – Porcalhotas? Nome que lhe assenta que nem uma luva! Bem se nota! E o seu marido? É o Porcalhoto, não?!
Pocahontas – Por acaso não. É o Baby!
Esmeralda – Qual? O porquito? A senhora é uma pedófila. Com um Baby! A senhora conhece o Carlos Cruz?
Pocahontas – Sou amiga da Gertrudes, porquê?
Esmeralda - A sua mão não engana! Estão cá todos: Ferreira Dinis, Hugo Marçal, Bibi, …
Pocahontas - Bibi ou Bóbó ? Eu só conheço o Aniki-Bóbó!
Esmeralda - (irónica) Tem muita sorte!
Capuchinho - Vovó? Onde está a vovó que o Lobo Mau comeu?
Pocahontas - Ó que sorte que ela teve! (A fazer beicinho) Só eu não sou comida por ninguém! Estou farta desta vida…
Esmeralda – Porquê tantos lamentos, minha filha?
Pocahontas - A doença não me larga.
Esmeralda – A linha da vida não engana. É como o algodão. Há-de viver até morrer, mas até lá sofrerá muito da próstata.
Pocahontas – (incrédula) Da próstata?!
Esmeralda - Da próstata e da cabeça.
Pocahontas – (mantendo o tom incrédulo) Mas como, se eu sou uma mulher?!
Esmeralda – Diz você! Na outra vida a senhora foi o Michael Jackson, sabia?
Pocahontas - Não. (Imita o Michael Jackson, dançando)
Esmerada - Nunca se viu ao espelho? Olhe bem a sua cor? (aparte - Que já não tem) Olhe o seu sexo? (aparte - Que sexo!)
Pocahontas - Já chega. Não quero ouvir mais. (E sai do palco a correr e a chorar)
Lobo Mau - (corre atrás da Minnie) Ó rata, dax-me o teu msn pah falarmx?
Minnie - (olha para baixo, na direcção do sexo) Dás-lho? (alguém aparece em palco com um círculo vermelho, semelhante ao que é exibido quando o filme não se destina a menores)

(A música dos Aqua - “Barbie Girl” - interrompe a conversa)

Lobo Mau – (volta-se para a Cinderela) Queres ir dar uma volta na minha máquina nova, uinda.
Cinderela - (usando tom de voz esganiçado) Ya meu, vamos nessa.

(O Lobo Mau vai buscar o carro de bateria/triciclo e entra em palco nele)

Lobo Mau – Monta!
Cinderela - Que lata! Foste buscar um Mercedes e eu queria um Fiat.
Lobo Mau(irónico)Fia-te na virgem e não montes! Vais mesmo de coche!
Cinderela – (muito afectada) Que bruto! Seu insensível … Seu animal!
Lobo Mau - Chama-me tudo, menos animal.
Cinderela - Desculpa se me enganei. Também a seres animal preferia que fosses um sapo a um lobo... farrusco e peludo!
Lobo Mau - Porquê?
Cinderela – (muito dengosa) Pelo menos podia obter um príncipe quando o beijasse nos lábios.
Lobo Mau – (irónico) Lavas os dentes? Que pasta usas? Andas a ver muitos Morangos … (sarcástico) És uma porcalhona!
Pocahontas - Alguém chamou?
Cinderela - Shiuuuu, cala-te.

(Lobo Mau volta-se para a Pocahontas)

Lobo Mau - Ó Jeitosa, vai uma voltinha?
Cinderela - (irritada) Animal duas vezes! Andas a trair-me?
Pocahontas - (arrota e levanta os braços) Bora lá.

(Cinderela e Lobo Mau com gesto de reprovação)

Minnie (entra em palco a cheirar) - Huum, que cheirinho! (Vira-se para o lado com cara de enjoada) Que estrume!

(Porrada entre Minnie, Porcahontas e Cinderela. Imitando o boxe, Tarzan passa com os cartazes da ronda e dos números)

(Aladino vai buscar 4 homens ao público que servirão de postes de um ringue de boxe, enquanto a Capuchinho os entretem; o Lobo Mau cerca o ringue com uma fita socorrendo-se dos 4 homens que servirão de postes do ringue. Enquanto isto, a Branca de Neve bate com uma colher num tacho que serve de campainha de combate. O Tarzan exibe o cartaz «ROUND 1», mas é empurrado contra um dos homens que serve de poste.

Entra a Sininho com uma carteira cheia de confettis. São lançados foguetes de festa de anos
)

Sininho: Paz e amor! (Atira os confettis)

(As luzes apagam-se. Os lutadores e postes caem no palco, só a Sininho se mantém de pé. Ouve-se o som de um CD a rebobinar. A Sininho é iluminada por um foco de luz.
A Sininho declama «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», de Camões, que introduz a parte seguinte da peça. Enquanto lê, vai-se despindo, tirando a roupa e os adereços da personagem e tornando-se uma pessoa “normal”.
Entretanto, o texto acaba de ser declamado, as luzes apagam-se e ouve-se o bulício de uma cidade
).

- PARTE II -

As luzes acendem lentamente, dando a sensação de um amanhecer. As personagens, caídas no palco, vão-se erguendo, arranjam-se e despem as roupas de personagens fantasiosas (os convidados regressam aos seus lugares). Entre o palco e o público estão, desde o início da peça, roupas penduradas em cruzetas. As personagens despem-se junto destas cruzetas disfarçadas pelas roupas necessárias a esta parte. Quando os actores estiverem vestidos, as cruzetas ficarão visíveis ao público, transmitindo a ideia de morte (há um momento na vida do Homem em que este mata a fantasia e se torna adulto, com tudo o que isto significa de perda da inocência)


Na sala são criados 5 espaços diferentes, de acordo com a cena a representar.

Quadro 1
«A Justiça»

A sala está toda escura. Apenas um foco ilumina a cena que se pretende.


O cenário é composto por uma sala de tribunal. Existe uma secretária onde está sentado o juiz, e uma cadeira à frente desta, que é ocupada pelo arguido, que está ladeado por dois guardas.


Personagens:

- Juiz

- Arguido

- 2 guardas

Juiz: (batendo com o martelo na mesa) Vamos dar início ao julgamento de Augusto Silva, acusado de homicídio e profanação de corpo. O crime foi cometido a 21 e Setembro de 2008, em casa da vítima. Augusto Silva, o seu advogado encontra-se presente?


Arguido: (baixa a cabeça e os guardas sacodem-no pelos ombros) Eu não…tenho advogado.

Juiz: Desculpe, mas é impossível, o Ministério Público certamente se encarregou de enviar um advogado para o defender durante o julgamento.

Arguido: (ri-se e fala com desprezo) Acha mesmo que essa gente se importa com os que vivem em caixas de cartão e comem apenas uma refeição decente no Natal? Acha que alguém nos estende a mão?

Juiz: (bate com o martelo na mesa) Silêncio! Então está a dizer-me que não tem ninguém que o possa defender?

Arguido: Está a ver aqui alguém? É claro que não há ninguém!

Juiz: Assim sendo, não posso julgá-lo. Vai ter que arranjar alguém.

Arguido: (visivelmente irritado) E acha mesmo que isso vai valer alguma coisa?! Por favor! Não adianta dizer que não matei ninguém. Não adianta dizer a verdade. Porque vocês são miseráveis, ratos de esgoto. De que vos serve arranjarem-me um advogado se o meu destino está decidido? Eu vou ser preso! Eu sei! Nada fiz para o merecer! Nada! Eu estou inocente, eu não matei ninguém!

Juiz: (enfurecido) Silêncio! Não se atreva a desrespeitar-me e a ser insolente! Está na presença do poder!

Arguido: (continua irritado) Não me intimide. Pensa que não sei que foi pago para me meter na cadeia 10 ou 15 anos? Pensa que não sei a falsidade que reina por esses lados? Oh, por favor! Vocês metem-me…!

Juiz: (perdendo a calma) Não tolero esse desrespeito! Eu possuo provas de que foi o senhor que matou e escondeu o corpo da vítima em questão. Foram feitas buscas no local do crime, tudo foi investigado. Não me diga que é inocente. O senhor é o culpado!

Arguido: (aos berros) Então prenda-me! Dê esse presente a quem o apoia, vá! Não perca o dinheiro que lhe prometeram caso me conseguisse incriminar!

Juiz: (exaltado) Silêncio! Que insolência! Eu tenho provas! O senhor está preso por homicídio e profanação de cadáver. Aproveite o sol por entre as grades durante 16 anos! Julgamento encerrado! (Bate com o martelo) Levem-no!

(Os guardas seguram o arguido pelos ombros e encaminham-no para a saída.)

Arguido: (Pára, volta-se para o juiz) Diga-me, como consegue dormir à noite? (As luzes baixam)

Quadro 2
«Médico e Mendigo»

Cenário: Rua
Personagens:

- Médico
- Mendigo

(Na calçada de uma rua está sentado um mendigo a pedir esmola e a tocar acordeão. Passa um médico e o pobre pede-lhe esmola)

Médico: (apressado) - Mas você não tem mais nada que fazer? Tem bom corpo, vá trabalhar.

Mendigo: (educado) Passe um bom dia, senhor… (E continua a tocar, baixando a cabeça. O médico desaparece no fundo da rua mas deixa cair um panfleto [“Doar Sangue”]. O mendigo agarra nele e corre atrás do médico)

Mendigo: (batendo no ombro do médico) Desculpe, deixou cair isto.


Médico (com ar cínico e com desprezo): Ah, está bem!

Mendigo: Posso ajudar?

Médico: (desesperado) A minha filha precisa de sangue … (arrogante e com nojo) Mas não do seu!

(Toca o telemóvel do médico)


Médico: (fala ao telemóvel) Não acredito! Os dadores não são compatíveis?!

Mendigo (toca no ombro do médico, apoiando-o) Se o que mais ama é a sua filha e se a quer ver bem, ponha as diferenças de lado e aceite a minha ajuda. Não seja arrogante! Não preciso de nada, não peço nada, nem que goste de mim sequer. Faça o mesmo com a sua filha. Ela será como eu: vítima da falta de amor.

Médico (baixa a cabeça, envergonhado e sensibilizado) – Não sei o que lhe possa dizer. Acabou de me dar uma lição de vida. Como mostrar-lhe a gratidão?! Posso chamá-lo AMIGO?

Quadro 3
«O Álcool»

Cenário: casa de família com televisão.

Personagens:

- homem

- mulher

- filha


Homem (bate à porta de casa e grita) – Ó mulher, faz alguma coisa! Abre lá esta porcaria!

Mulher (levanta-se do sofá e abre a porta) – Isto são horas de chegar? Já viste bem a tua figura?

Homem – Ó pá, não me chateies! (Dá-lhe um encontrão)

Mulher – (com a voz alterada) Não me chateies?! Desde que ficaste desempregado é o mesmo cinema todas as noites! É por tua causa que a nossa filha anda como anda! A culpa é toda tua, nunca te vou perdoar. NUNCA!

Homem – A tua filha é como tu. Mulheres!!!!

Mulher – Ó homem, está calado! Ela anda assim porque tu não lhe dás atenção nenhuma.

Homem – Tu não me mandas calar! (Dá-lhe uma bofetada)

Filha (que estava escondida a ouvir tudo, entra alterada) -Tu não bates na minha mãe! Se eu vomito é porque tenho nojo: nojo do meu corpo, nojo de ser filha de um alcoólico que só sabe bater na mulher e na própria filha.

Homem (aos berros) - Cala-te, tu és uma pirralha que não sabe nada da vida!

Filha – (continua alterada) E tu? Tu sabes o quê? Andar bêbado o dia todo? É isso que tu sabes? Os meus colegas passam o tempo todo a gozar comigo, a dizer que eu sou filha de um alcoólico! Que sou uma gorda! Detesto-te! (Chora)

Mulher – (maternal) Filha, vai-te deitar, já é tarde.

Homem –Vejam se se metem no ninho e se deixam de me encher a cabeça. (Senta-se no sofá e liga a televisão)

Mulher (põe-se à frente da televisão) – Nem penses! Agora vamos falar sobre o problema da nossa filha, ela tem de ir ao médico para vermos o que se passa.

Homem – O que se passa é que ela é doida como a mãe! (Rindo-se e bebendo)

Mulher – Esquece. Não dá para falar contigo nesse estado. Se queres continuar com essa vida, a gastar todas as poupanças que juntei com o meu trabalho, fá-lo sozinho. Eu e a tua filha não aguentamos mais. Vou dormir. (E sai de cena)

Homem – Ai que a conversa já está a azedar! Vai lá... enquanto dormes, não me chateias a cabeça!

Quadro 4
«A Droga»

Cenário: Bairro social

Personagens:
Personagem 1- toxicodependente

Personagem 2 - toxicodependente
Personagem 3 - toxicodependente
Personagem 4 – toxicodependente que tenta recusar a droga

(Os3 jovens drogados estão em grupo e, entretanto, o que recusa a droga passa por eles)

Personagem 1 – Atão sóc…!

Personagens 2 e 3 (ganzados) – Yaaah!…

Personagem 1 – Anda cá, meu, quinaste?!… (Oferece-lhe uma “passa”)

Personagem 4 – Desculpem, mas não quero… Deixei-me disso há bué tempo!

Personagem 2 – Este agora está a armar-se em betinho!

Personagem 3 – Bem podes… Não ‘tavas bem? Fazias o que te apetecia, ninguém te chateava… levavas a vida na boa…

Personagem 1 – Vá, deixa-te de ser esquisito e bora c’o pessoal.

Personagem 4 – Eu deixei-me dessa vida, arranjei bué problemas e agora tenho objectivos!

Personagem 2 – Eu bem digo que agora 'tás armado em cortes… todos sabemos que queres vir e que te 'tás a fazer-te de difícil. És um anjinho!

(A Personagem 4 acaba por ceder e junta-se ao grupo. Todos enrolam cigarros)

Personagem 4 – Dá cá isso… Que se lixem os meus objectivos e os meus cotas…

Personagem 3 – Bem me parecia que não tinhas mudado e que continuavas um dos nossos!

Quadro 5:
«Gravidez na Adolescência»

Cenário: Jardim.

Personagens:

- casal de namorados

(Entra no palco um casal de namorados de mão dada)

Fofinha: (melada) Quero ficar contigo para sempre, docinho!

Docinho: Eu também, fofinha (pausa). Quando te olho nos olhos parece que o tempo pára. És linda!

Fofinha: Docinho, aconteça o que acontecer, nunca me vais abandonar. Promete!

Docinho: Claro que não. Prometo. És o amor da minha vida, és o “tal” amor. Jamais te esquecerei. (Mete a mão por dentro da camisola dela, na cintura)

Fofinha: Vai com calma… só andamos há uma semana!

Docinho: Não te preocupes… Sem stress…

(Desaparecem atrás do palco. Passados uns segundos, ela aparece com a fita do teste de gravidez a confirmar “positivo”. Aparece ele.)

Docinho: Que se passa, baby?

Fofinha: Precisamos de falar. Tenho uma coisa importante para te contar, mas não sei como...

Docinho: Deixa lá isso. Temos todo o tempo do mundo. (Tenta colocar a mão na anca dela)

Fofinha: (veemente) Pára. Deixa-te disso!

Docinho: (irritado) Que se passa?!

Fofinha: (perplexa e encostada à parede) Estou grávida … e TU (pausa) és o pai… (diz cabisbaixa)

Docinho: (incrédulo) O quê ??! Ó miúda, a culpa é toda tua. Eu não tenho nada a ver com isso! Tu é que não tiveste cuidado nenhum! (Grita, e começa a sair do palco). Querias chupar o dinheiro todo dos velhotes. Sabia-te, não?!

Fofinha: Mas, … então?! Não me prometeste amor eterno?! Não disseste que não me deixavas, acontecesse o que acontecesse?! Onde já vi eu este filme?!

(Ele ignora e sai. Ela escorrega lentamente pela parede desesperada e com raiva a bater na barriga)

Fofinha: Os homens são todos iguais, têm a cabeça muito perto dos pés. (Irónica) Se eu não fosse mulher!… (Exibe um novo teste que comprova que não está nada grávida).

- FIM -

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